Auschwitz
No passado dia 27, fez 60 anos que o campo de concentração de Auschwitz foi libertado. Sempre considerei quase inacreditável que tal página negra da História tivesse ocorrido aqui, na civilizada Europa.
De todos os documentários que vi, de todos os filmes (desde os julgamentos de Nuremberga, do A Vida é Bela até à Lista de Schindler), de todos os livros, nenhum me impressionou tanto como o Sem Destino, do “Nobel” Imre Kertész.
Numa entrevista chegou mesmo a referir:
Auschwitz é o meu maior tesouro. A proximidade da morte é inesquecível. A vida nunca foi tão bela como nesse longo momento.
O autor bem tentou dizer que o livro não é totalmente autobiográfico, mas foi o retrato mais “puro” (embora ficcionado, afinal é um romance) do que foi passar por um campo de concentração que já li [também confesso que não li o suficiente…]. A descrição é sempre muito naif, chegando quase à ingenuidade de uma criança, e totalmente diferente da normal vitimização (justa e compreensível) que esperaríamos de tal caracterização.
Este livro não trata de “bons e maus” e a brutalidade é-nos dada como “normal”. Afinal de contas o personagem central, Köves György, diz-nos que o pior de Auschwitz era a “rotina” e a ausência de esperança de mudança, que não tinha de ser necessariamente a liberdade...
Após ler o livro, não sinto uma sensação de pena, nem de raiva, nem de náusea; apenas uma profunda admiração pelo modo como “Köves György” apresenta o seu pathos, culminando nesta belíssima catarse:
(…) Lá também, entre as chaminés, nos intervalos do sofrimento, havia alguma coisa que parecia ser a felicidade... Sim, é isso, é da felicidade dos campos de concentração que devo falar da próxima vez que me fizerem perguntas, se um dia as fizerem.
Sem Destino, Imre Kertész, em Portugal disponível pela Editorial Presença
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